Miguel Cavalcante da Silva - Mestre Internacional

 


 

Algumas considerações sobre a tablita

 O Jogo de Damas provém do poder do sobrenatural!

                                                                                      Miguel Cavalcante da Silva                     

             Mestre Internacional de Damas

            Estando com 68 anos de idade e diante dos meus 55 anos de dedicação ao Jogo de Damas, sendo inclusive autor de 7 obras sobre o tabuleiro de 64 casas, achei por bem transmitir a minha interpretação de que, na época atual, a maioria dos adeptos desse tabuleiro mental está bastante entusiasmada com os damistas do Leste Europeu, principalmente com os da Rússia, por terem desenvolvido e implantado o processo do sistema Tablita em seus campeonatos, ainda desde 1980, tendo contribuído significativamente para o enobrecimento de nosso esporte científico. Em nosso país, somente através do campeonato mundial da modalidade realizado em Recife (PE), no mês de novembro de 2007, passamos a tomar conhecimento dessa tão inovadora estratégia, cuja aplicação se destina aos campeonatos mundiais e nacionais, em cumprimento às novas normas.

Se o Jogo de Damas original, constituído de 12 peças para cada lado, mesmo quando sem a decisão do sorteio das Saídas já nos conduz a uma infinidade de posições, imaginemos após a propagação salutar da Tablita, que até serve como blindagem contra a opção de vícios de abertura e uso de partidas decoradas por parte de muitos atletas que, com essas atitudes, suprimem o espírito inventivo.

Por que a Confederação Brasileira de Jogo de Damas não seguiu as pegadas da ex-União Soviética já desde 1980/ 81, só vindo a oficializar o sistema tablita em nosso meio em 2008?

Em fase da fusão peremptória do sistema convencional com o sistema tablita, passo a opinar que essa transformação seja levada a efeito não somente em campeonatos de alto nível, como está assim estabelecido, servindo de força de lei junto às confederações e suas federações alusivas para que, no tocante às suas estruturas organizacionais, seja processada uma referência de caráter estatutário.

Para que, então, servirá essa possível reforma estatutária? Para solidificar a definição contemporânea do que é o Jogo de Damas, com resultado esclarecedor para todas as partes do mundo, quando o sistema Tablita até poderá ser divulgado pela indústria de entretenimento, se atendo a reformulação havida no Jogo de Damas, a partir das raízes de suas regras.

Assim sendo, faz-se mister aceitarmos a utilização de sorteios obrigatórios aplicados pelo juiz da competição. Através de sorteios que levam em conta centenas de premissas iniciais embaladas, para a Dama tradicional haverá a indicação prévia do 1º lance de cada lado, cabendo aos jogadores começarem a contenda logo posteriormente ao sorteio, com a execução dos movimentos de forma voluntária, a partir do 2º lance; enquanto para a Tablita, o resultado do sorteio é quem determinará ora no sentido do salto de uma só peça e ora no salto de uma peça de cada lado (na maioria dos casos, o jogo principia com peões ocupando o campo adversário!), para se achegarem às “casas” antes não ocupáveis no sistema tradicional, quando ainda com as pedras em situação estática, cabendo aos jogadores começarem a disputa a contar do 1º movimento de pedras, e passar a fazer as devidas anotações na planilha.

Esperamos que esse novo paradigma suplante a resistência de alguns damistas recalcitrantes, uma vez que o modelo se constitui em uma grande vitória para nosso campo técnico (teórico e prático), além de evitar o excesso de empates. Aliás, de acordo com a evolução técnica, houve tablitas irregulares que já foram expurgadas do sorteio. Se disputarmos a partida a contento, iremos ver que todo o deslocamento atrativo de peças continua sendo racional e lógico.

Existem a arte da paz e a arte da guerra. Nós, damistas, temos a necessidade de respeitar o nosso nobre esporte, cuja função é também servir de exemplo para a concórdia, apesar de haver tantas animosidades em nosso meio, inclusive entre determinados dirigentes.

Quando dizemos que a arte contribui de forma especial para desenvolver o cognitivo, a percepção e a sensibilidade/criatividade, além dessas benéficas características poderem envolver os damistas mais aprofundados no assunto, o nosso esporte mental também nos faz empregar convenientemente muito raciocínio, memorização, inúmeros tipos de improvisos e ativação das virtudes. De forma que o Jogo de Damas representa um campo dinâmico, onde podemos enfatizar como sendo oriundo do poder do sobrenatural, pois não esgota o seu manancial de variáveis tão frutíferas, sendo, por conseguinte, considerado um bem imaterial, constituído de belezas incomensuráveis.