Entrevista
                   

 Hugo Wilton Cafasso

 


Comerciante, nasceu em 6/2/32, em Maria da Fé (MG).
Na juventude jogava futebol e celebrizou-se como excelente goleiro. Depois que se apaixonou pelo Jogo de Damas, foi patrocinador de muitas competições em S. Lourenço tais como vários Interestaduais, 9 Inter Cidades, Campeonatos Mundiais, etc.
Bastante teórico e estudioso.
Sua contribuição ao Jogo de Damas não pode ser esquecida.


Entrevista concedida a
Laércio Gomes da Silva, em 2001.

Enumere seus principais títulos.
- Campeão de S. Lourenço (MG) 7 vezes sendo 6 vezes consecutivas, vice-campeão brasileiro por equipes em Nova Friburgo, campeão do I Torneio Postal da C. B. J. D. iniciado em 1997 e terminado em 2000, onde participaram 58 jogadores de 14 estados

Como se iniciou no Jogo de Damas?
- Eu era viajante e costumava jogar no Mercado Municipal da Cidade de S. Lourenço (MG). Jogava e perdia sempre. Eu já tinha mais de 30 anos de idade. Os adversários me ridicularizavam dizendo que a raça turca e italiana não haviam nascido para jogar damas, que eu não teria capacidade de aprender. Isto criou muita raiva em mim. Consegui o livro do Cabrerizo. Estudei muito e sozinho. Eliminei medos e passei a jogar com coragem e confiança e a ganhar. Depois conheci C. A. Ferrinho e melhorei bem o meu jogo estudando os livros de sua autoria “A Defesa Russa” e a “Abertura Australiana”. O Humberto Olivarbo emprestou-me para copiar o livro “Abertura e Meio Jogo” (o célebre c3-d4), de Kuperman e Kaplan. Havia anotações de W. Bakumenko corrigindo diferenças de regras. Desta forma consegui ganhar o Campeonato da Cidade. Os adversários desprezavam, naquele tempo, o estudo alegando que era bobagem. Só no III Campeonato da Cidade os adversários se convenceram da necessidade do estudo.

Como começou o Jogo de Damas em sua cidade?
- O devemos ao pai do Laerte Negreiros. O Emílio fotógrafo tinha os jogos no clube e realizava torneios simples. Sempre havia jogos amistosos contra equipes da região até jogar contra Belo Horizonte. O objetivo era ir melhorando aos poucos.

Como aumentou o interesse pelo jogo de damas?
- Certa vez convidei os enxadristas de S. Lourenço para jogar damas. Eles disseram que damas não valia nada mas passaram a jogar damas e eu comecei a aprender a jogar xadrez. Participei do Campeonato da Cidade. Inovei cedendo o centro e fui campeão da cidade em xadrez. Meu interesse pelo xadrez aumentou muito quando ganhei 4 partidas do Lélio, há 25 anos atrás. No Campeonato da Cidade em damas os enxadristas ocuparam os últimos lugares.

O que o Jogo de Damas significa para si?
- Esporte, lazer, distração. Um jogo maravilhoso. Um brinquedo intelectual. Exercício mental. Prática de uma atividade sadia que desenvolve a capacidade mental. Uma disputa onde quero vencer os torneios.

Como melhorou seu próprio jogo?
- Estudando diariamente a sós e em equipe. Fiquei dois meses estudando em equipe o passe de pedra em c1. Participando sempre de torneios. Pesquisando sempre novos lances combinativos em toda e qualquer posição. Fazendo sacrifícios contra o computador. Conhecendo os adversários e descobrindo neles os seus pontos vulneráveis. Armar o jogo em cima disso, preparando partidas. Procuro “furos” nos livros.

Qual a metodologia de treinamento que usa ou usou?
- Hoje uso o computador e tento contrariá-lo. Tento sacrifícios. Pesquiso diariamente durante normalmente quatro horas até me cansar. É um trabalho de laboratório. No passado estudava os livros de A. C. Ferrinho. Acompanhava e reproduzia as partidas dos grandes jogadores onde procurava descobrir erros, tentava ganhar partidas empatadas e empatar partidas perdidas. Estudava as partidas dos campeonatos. Testava partidas aprendidas na literatura disponível. Foi desta forma que descobri, depois de muita análise, que o proposto Gambito Lélio era perdido.
Quando era mais jovem não perdia oportunidade de jogar e criava dentro do tabuleiro, na partida viva. Tinha mais cabeça. Nada me perturbava nem me desconcentrava. Tinha excelente preparo físico. Praticava Yoga e exercícios de respiração. Aprendi a respirar correta e profundamente para me acalmar e buscar profunda concentração e paz. Procurava avaliar ao máximo cada posição. Esgotei as análises da literatura nacional, pesquisei detalhes das variantes propostas.
Em seguida, estudei o livro “Aberturas e Meio Jogo”, de I. Kuperman e V. Kaplan, escrito em Russo.
Nesse tempo eu viajava muito e jogava mentalmente, sem o tabuleiro. Mentalizava mais as análises, pensava mais longe.

Como estuda nos livros escritos em Russo?
- Usando um dicionário, que comprei, para vencer as dificuldades da língua. No passado, C. A. Ferrinho preparou-me um pequeno dicionário com as principais palavras e expressões técnicas usadas no Jogo de Damas. Isso facilitou muito.

Qual a técnica que usa para analisar e compreender uma partida?
- Passo a partida experimentando outras variantes, outras tentativas, para tentar entender o porquê do lance. Procuro descobrir o estilo de jogo dos adversários: se bloqueiam, se procuram o centro, etc.

Como melhorar a capacidade de calcular as variantes com profundidade e precisão?
- Tentar jogar mentalmente sem o auxílio do tabuleiro é um dos melhores exercício que conheço! Conferir os cálculos antes de jogar.

O que faz para desenvolver a criatividade para jogar bem?
- Procuro dormir muito bem para ter disposição para jogar. Procuro sempre novos conhecimentos. Desenvolvi profundo auto-controle para me acalmar. Visualizo o tabuleiro às cegas para analisar longe. Quando jogo, não penso em mais nada, não percebo nada, desligo do mundo.

Como melhorou o seu poder de concentração para treinar e competir?
- Gostava e gosto muito do Jogo de Damas. Sempre estou tentando idéias práticas para ver se funcionam. Aprendi a concentrar-me tão profundamente, com abstração total tão forte, que não sentia o tempo passar a ponto de não saber se tinha feito a refeição. Não era raro tomar duas vezes a mesma refeição sem saber se tinha comido e o que tinha comido. Certa vez saí da sala de estudo para cuspir no banheiro e acabei cuspindo no armário sem notar o que tinha feito. Foi minha esposa foi quem me chamou à realidade . . .

Como previne e corrige suas falhas como jogador?
- Comos erros cometidos. Procuro descobrir as causas para corrigi-los e evitá-los. Investigo o que tem de bom cada adversário para incorporar essas qualidades. Aprendi mais perdendo do que ganhando. Anoto minhas partidas para saber porque perdi e como perdi. Sempre aprendi muito com as eventuais derrotas.

Quais são os seus pontos fortes e fracos?
- Fraco: tentar bloquear e não conseguir. Forte: dominando o centro, gostar de jogar bloqueado.

Como aperfeiçoar o próprio jogo?
- 1. Estudar as partidas dos mestres e descobrir, captar, o que pensam, o que querem durante o jogo em cada posição.
2. Desenvolver a consciência de que precisa estudar muito e sempre para contrariar o que o adversário planeja e deseja.
3. Eu levanto bem cedinho, às 5,30 ou 6 horas, e estudo no mínimo duas horas diárias sabendo que o ideal seria dedicar-me 8 horas diárias sempre que possível.
4. Criar novas aberturas.
5. Saber vencer o cansaço mental e físico dormindo cedo, descansando, relaxando, conseguindo paz interior. Alimentar-se bem e não abusar do álcool.
6. Aprender a cuidar melhor de si para ter mais saúde, melhor condicionamento geral.
7. Estudar e preparar partidas e posições no laboratório. Descubrir falhas e erros. Este preparo é fundamental. Exemplo disto é a partida que joguei contra Messias Cruz no Brasileiro em Volta Redonda (RJ): numa partida que se considerava vitoriosa para as brancas, eu a estudei e descobri uma falha e ganhei. Já a havia jogado contra Douglas Diniz e empatado, mesmo ele afirmando que se abrisse a posição venceria embora tenha sido isso mesmo o que aconteceu com Messias.
8. Disciplinar-se a administrar o tempo de raciocínio de forma calma e segura, sem precipitação. Ficou a lição da partida contra Lourival. A posição estava empatada mas ele deixou, propositalmente, ficar com pouco tempo. Joguei precipitadamente e perdi tentando ganhar no tempo. Este fato é relatado por Ferrinho em seu livro “Bloqueios e Envolvimentos” no capítulo “Falta de Tempo Premeditada” sem citar nomes.
9. Estudar toda a literatura que possuir com dedicação e disciplina.
10. Procurar bons parceiros para analisar e treinar.
11. Desenvolver a faculdade de analisar sem ver o tabuleiro para conseguir, quando jogar, analisar bem.
12. Conhecer posições e temas de vitória.

Como melhorar a inspiração para competir?
- Auto motivar-se com estudo de partidas interessantes, artísticas, quase perdidas, onde o ganho aparece de forma quase mágica.

Como se prepara para enfrentar seus adversários?
- Estudo suas partidas. Descubro qual é o seu estilo, o que gosta de jogar e o que não gosta para contrariá-lo desde a abertura. Analisava jogo por jogo, adversário por adversário e procurava surpreendê-los nas partidas dos torneios. Sempre procurava, nas partidas amistosas, esconder os ganhos descobertos.

Conselhos gerais para o damista crescer.
- Procurar sempre analisar com calma e tranqüilidade qualquer partida ou posição, mantendo-se numa postura correta e de conforto. Treinar para pensar muito longe e profundamente com precisão. Jamais jogar em treino ou competição um único lance sem raciocinar, sem refletir. Habituar-se a pensar forte no futuro distante da posição. Jogar, sempre que possível, contra os melhores damistas. Estudar e preparar sempre aberturas do seu agrado. Cuidar para que esteja sempre bem fisicamente e psicologicamente. Ter criatividade e imaginação nas suas análises profundas. Manter calma e frieza extremas.

Conselhos para administrar melhor o tempo de raciocínio?
- Pleno conhecimento e preparo das aberturas para jogar com segurança e rapidez nesta fase, economizando tempo para pensar no meio jogo e no final. Invista no estudo de aberturas procurando novidades. Perdi muitas partidas amistosas sabendo que estava ganho. Aplicava estas descobertas somente em torneios oficiais.

Existe sorte no jogo de damas?
- Existe: no emparceiramento, quando o jogador não joga tudo o que sabe ou preparou, quando o adversário por qualquer razão relaxa a concentração.

Como encara o jogo relâmpago?
- É bom para exercitar as decisões rápidas mas eu não simpatizo com essa modalidade.

O que a informática trouxe de bom para si como damista?
- Maior segurança e rapidez para ver partidas e pesquisar posições. Facilita a análise de variantes. Ver e analisar a partida a partir do ponto que eu quero, com a facilidade de voltar repetidamente ao ponto desejado para reanalisar. Procurar sacrifícios.

Como descansa nos dias de competição?
- Durmo cedo e acordo cedo. Tomo um bom lanche. Alimento-me bem. De 1988 para cá passei a ser vegetariano. Evito gorduras.

Como melhorar o vigor físico e o vigor mental?
- Pratico exercícios físicos e caminhadas com marchas forçadas. Dedico-me à Yoga com exercícios de respiração. Faço isso até hoje. O cérebro absorve mais oxigênio. O poder de concentração aumenta

O que faz para cultivar a saúde?
- Hoje não como carne. Sou vegetariano. Não tomo álcool. Não fumo. A propósito: antigamente fumava um maço durante a partida. Levava três maços comigo. Um que estava fumando e dois que ameaçava fumar. Meu jogo era lento. Estas circunstâncias deixavam o adversário louco de raiva...

Quais os benefícios o Jogo de Damas traz para as pessoas?
- É um exercício mental excelente. Abre a mente. Aumenta a capacidade do raciocínio.

Quais as emoções o Jogo de Damas lhe proporciona?
- A queima de adrenalina. A busca do equilíbrio emocional. Eu só jogo o primeiro lance quando obtiver pleno autodomínio dos nervos, da respiração. Já fiquei vinte minutos sem fazer o primeiro lance até conseguir controlar os nervos e a ansiedade. A escolha da abertura é muito importante. Jogo sempre o que sei, o que domino, o que treinei, o que estudei. Conduzo o jogo sempre para posições conhecidas e que calcula que o adversário não conhece.

O Jogo de damas tem o ajudado na vida?
- Tem. Abriu um leque maior de boas relações.

Qual a contribuição particular que você deu para a evolução do Jogo de Damas?
- Promovendo torneios. Ajudando financeiramente. Chamando equipes de outras cidades. Patrocinando Campeonatos Brasileiros por Equipes. Junto com Laerte Negreiros e Wilson Chaib criamos e patrocinamos os três primeiros Inter Cidades. Foram realizados nove Inter Cidades oficializados pela C. B. J. D. e com a ajuda especial de C. A. Ferrinho. Os últimos seis foram patrocinados pela Prefeitura Municipal de S. Lourenço mas sempre sobravam despesas para nós três pagarmos

Quais as qualidades pessoais deve ter o damista para competir sozinho ou em equipe?
- Gostar muito do Jogo de Damas. Estudar profundamente teoria e com grande interesse para obter bons conhecimentos. Conhecer perfeitamente as regras de jogo e de competição. Ter um excelente preparo emocional para analisar com calma, com a máxima atenção e criatividade. Dedicação e vontade muito forte de vencer e ser campeão. Seriedade do início ao fim da partida e da competição. Aprender sempre com livros, colunas, apostilas de campeonatos e com os mestres. No passado eu ia sempre a S. Paulo aprender com C. A. Ferrinho no Clube Estrela de Oliveira ou em seu estabelecimento
.
Quais as características ou qualidades aprecia nos mestres?
- Técnica refinada. Conhecimento. Alto poder de raciocínio e suas análises profundas e corretas. Sua extrema calma e tranqüilidade. Precisão na decisão do lance escolhido. Eles conhecem atalhos para suas análises gastando apenas um minuto em situações onde nós gastaríamos 10 horas. Dentre os jogadores brasileiros gosto muito de observar o jogo de Genaldo. Ele não aperta o adversário. Deixa-lhe muitas opções, o que aumenta as chances para que o adversário cometa erros.

O que separa o nível de jogo dos ex-soviéticos dos brasileiros?
- Uma grande retaguarda pessoal, infraestrutura técnica, material e profissional. Muitos anos de vivência, experiência, conhecimentos profundos acumulados. Um enorme poder de concentração dos seus mestres para um resultado fértil nas análises.

Principais damistas brasileiros que admira? E no mundo?
Brasileiros: 1. Messias Cruz pela criatividade; 2. Genaldo Gonzaga pela super criatividade; 3. Reginaldo Cruz pela criatividade; 4. Lourival França por ser completo: é tranqüilo, seguro, com um poder de análise muito forte; 5. Douglas Diniz pela firmeza e segurança no jogo; 6. Danilo Zanini pela firmeza no jogo; 7. Siney Torres Marra pela criatividade; 8. Salim Salum e Roberto Salum pela firmeza; 9. Jorge Salomão pela lógica, pelo estilo combinativo e criativo.
Estrangeiros: Chvartzman, muito criativo e pela genialidade capaz de analisar variantes muito profundamente; Gabrielian, mestre de altíssimo nível de jogo. Com ele aconteceu no Mundial, na partida contra o Marreco, onde este tinha duas tomadas, uma para a frente e outra para trás. No final da partida, Gabrielian perguntou porque não tinha tomado ao contrário. Depois mostrou o que aconteceria com análises profundas e detalhadas. O poder de análise dos ex-soviéticos é fantásico!

Como vê a evolução técnica no Jogo de Damas?
- Cada vez evoluindo mais. Muitas partidas não jogadas ontem são jogadas hoje e vice-versa. Os torneios jogados com os participantes do leste trouxeram conceitos novos. Há um divisor de águas no conhecimento damístico com a realização desses torneios internacionais a partir de 1987.

Quais são os seus sonhos para a modalidade Jogo de Damas?
- Que haja um trabalho sério para que as autoridades o reconheçam e implantem em todas as escolas. Que mais gente venha participar. Que mais cidades joguem entre si nas competições por equipes. Que saiam dos bares para competirem mais em torneios nos clubes. Que o elemento feminino participe mais das competições assim como jovens e crianças de ambos os sexos.
Ter campeonatos com mais tempo de raciocínio, mais dias para jogar. Hoje é raro jogarmos como antigamente. Eram vários dias de competição, uma semana, enquanto hoje se jogam as competições em 1 dia, no máximo dois dias. Tínhamos oportunidade de pensar, criar, observar. Um exemplo: num Mundial realizado em S. Lourenço, o Mestre soviético Gabrielian mostrou em detalhe todas as opções analisada em sua partida. Havia tempo de raciocínio para este trabalho, para esta análise. Isto aumentava a importância e o valor do Jogo de Damas.

Quais as boas oportunidades o Jogo de Damas lhe proporcionou em sua vida?
- As amizades feitas. Ter conhecido o hoje meu compadre C. A. Ferrinho.

Quais as contrariedades o Jogo de Damas lhe trouxe em sua vida?
- Perder o Campeonato Brasileiro por Equipes em Nova Friburgo (RJ) quando tínhamos o título na mão. A partida do Jimmy contra o Paulo Michel, da Guanabara, uma Asa Preta, estava ganha. Jimmy não conseguiu dominar a emoção, errou, e acabou perdendo. A partida havia sido preparada e estudada por Jimmy e Laerte.

O que sugere para melhorar a organização do Jogo de Damas nos clubes, ligas e federações?
- Despertar o interesse pelo nosso esporte para conseguirmos a participação da sociedade, dos políticos, autoridades, empresários, etc.

Como atrair público para o Jogo de Damas?
- Criando interesse na população para ir assistir e participar. Anunciando na TV, jornais e rádio os torneios. Apresentar ao vivo na TV os torneios. Criar cursos na TV. Desenvolver o marketing esportivo para a modalidade.

Sugestões para conseguir patrocinadores
- Eles esperam retorno publicitário via TV, jornais, Internet, etc. Aqui em S. Lourenço nós conquistamos amizades sem preocupações do retorno financeiro. Assim, o nome da cidade foi divulgado pelo Brasil e pelo mundo.
Precisamos vender o Jogo de Damas aos políticos, autoridades, empresários, etc. Incluí-lo no currículo escolar. Promover cursos pelo País desde infantil e juvenil para ambos os sexos.

Como estruturaria um seu possível Curso de Jogo de damas?
- Ensinamentos elementares nas escolas oficiais ou particulares, com o apoio das autoridades, empresários, etc., para crianças de 8 a 11 anos. Nos clubes e praças publicas, chamando a juventude para se engajar, para tomar gosto e interesse pelo Jogo de Damas. Mostraria partidas e posições de combinações, as belezas do jogo, problemas, os dribles espetaculares, o inesperado. Tudo isto é atraente, prende a atenção. Aconselhar a aprender profundamente as regras para não errar. Ensinar a tomar decisões firmes.

Qual deve ser o papel do professor de Jogo de Damas?
- Saber como motivar os alunos para que tenham gosto, interesse, amor, paixão pelo Jogo de Damas. Saber por onde começar o plano de aulas e trabalhar com muita paciência e coerência. Ensinar a analisar partidas perdidas, empatadas ou ganhas. Saber mostrar os erros cometidos e outros caminhos melhores. Treinar e ensinar a pensar cada vez mais longe e com precisão.

Alguns fatos marcantes do passado.
- Durante os Campeonatos Inter Cidades alguns dirigentes e jogadores tentaram esvaziar o Jogo de Damas em 64 casas. O então Presidente da CBJD, o Ubiratan, queria que se jogasse apenas 100 casas. Por ocasião de um Inter Cidades, S. Paulo trouxe os seus jogadores e foi, pela CBJD, proibidos de jogar. Esta atitude foi a causa principal que desmotivou a continuidade dos Inter Cidades. Eram torneios maravilhosos. Ocorreram nas décadas de 60 e 70 com a duração de 3 a 4 dias de participação dos estados brasileiros com sua melhores equipes. Havia muita divulgação destes eventos no jornal “O Globo” e na TV, via meu sogro Miguel Guglielmeli, que era jornalista erm S. Paulo mas tinha amigos no Rio de Janeiro, pessoal dos jornais e TV. Nestes eventos sempre contamos com a ajuda de C. A. Ferrinho, organizando, arbitrando, jogando e dando publicidade no jornal “O Estado de S. Paulo” em sua belíssima coluna de Jogo de Damas.

Quando irá escrever seu próprio livro sobre Jogo de damas?
- Em breve, com partidas jogadas e comentadas e histórias de nossas competições. Ex.: eu preparava partidas chamariz, que sempre perdia nos jogos amistosos, para os adversários caírem nelas. Depois era só saborear a vitória. Preparava também ciladas fora do tabuleiro: dava balas para todos os competidores mas dava mais para os adversários dos que lutavam pelos primeiros lugares, meus possíveis rivais, especialmente sabendo que o barulho de desenrolar e chupar balas os irriva.
Um dia contei com a ajuda de um médico amigo. Ele perguntou ao meu adversário momentos antes da partida: “O que você tem nos olhos? Vá ao médico urgente que você está doente!”. Ele foi e eu ganhei a partida. Eu fumava muito e colocava sempre mais dois maços na mesa ameaçando fumar mais para irritar o adversário. Foram inúmeras as peças pregadas...

Quantos estereótipos já ouviu denegrindo a imagem do Jogo de Damas?
- Bastantes. O mais freqüente é que é um jogo infantil, sem alternativas, de poucos movimentos, e que não requer muita inteligência para jogar bem.

Qual é o seu prazer em ser damista?
- Estar entre os colegas. Participar de torneios. Fazer amizades. Realizo-me quando venço!

Qual foi a sua mais importante vitória e/ou derrota?
- A vitória foi contra o saudoso Messias Cruz. Foi uma partida que era considerada com perdida e eu a ganhei invertendo o conceito da partida. A derrota contra o Lourival França numa partida que estava empatada, como já relatei. Foi uma lição: aprendi a fazer o mesmo contra os outros. Outro caso foi contra o Jimmy no final de um campeonato quando precisava apenas de um empate para ser campeão. Jogamos a Defesa Russa.

O que aperfeiçoar no Jogo de Damas?
- A organização. Faltam elementos humanos para ajudar. Falta interesse. São sempre as mesmas pessoas que organizam. Faltam recursos para ensinar a organização no âmbito nacional, tais como:
a) isolamento da área dos jogos;
b) faltam torneios com mais tempo de reflexão;
c) necessitamos um maior número de simultâneas com patrocinadores;
d) um maior trabalho de divulgação junto ao poder público para que aconteçam noticiários sobre os eventos nos jornais, rádios, TVs, etc.;
e) mais torneios inter cidades por equipes e torneios importantes com um calendário definido;
f) valorizar mais os que sempre trabalharam em prol do damismo.

Qual a sua visão futura sobre o Jogo de Damas?
- Haverá um trabalho para sair dos bares e criar competições fortes e importantes dentro dos clubes, escolas, empresas, secretarias, etc., com a presença da TV, jornais, platéia, etc., dando ênfase aos eventos. Engajar para crescer. Penso que os jovens irão praticar mais o Jogo de Damas desenvolvendo a inteligência e fugindo das drogas. Teremos desenvolvido este trabalho desde a infância com parcerias e teremos infra estrutura necessária para um trabalho digno.

Qual o trabalho o Estado de Minas Gerais desenvolve para criar novas gerações de damistas?
- Exemplo: quando o Prefeito de Araguari incluiu o Jogo de Damas nas escolas.

Como melhorar as condições das praças ou ruas onde jogam damas?
- 1. instalar as mesas debaixo de sombras de árvores ou coberturas; 2. ter bancos para a assistência; 3 as mesas devem ser largas para colocar o relógio de competição; 4. tabuleiros com cores e tamanhos corretos para não cansar a visão; 5. instalar luz para poder jogar à noite; 6. damistas competentes devem orientar o poder público na instalação dessas mesas nos parques, praças, praias, escolas, etc.

Qual a sua maior tristeza no Jogo de Damas?
- Quando o Ubiratã era presidente da CBJD, a equipe de S. Paulo veio para o Torneio Inter Cidades e foi impedida de jogar. A intenção de desvalorizar o Torneio e a modalidade de 64 casas ficou clara e transparente. Nessa ocasião a CBJD argumentava que as damas de 100 é que tinha valor. Ficamos desolados com tal atitude. Outra razão para interrompermos o patrocínio do Inter Cidades era o fato que diversos damistas abusavam trazendo toda a família para se hospedarem à custa dos patrocinadores. Estava decretada a morte da maravilhosa festa que era o Inter Cidades.

Qual a importância de colunas de Jogo de Damas nos jornais e revistas e na Internet?
São de fundamental importância. Precisamos de mais livros, revistas e colunas com damistas de gabarito administrando essas publicações, como, por exemplo, C. A. Ferrinho. As colunas devem despertar interesse pelo esporte, publicar notícias e eventos no Brasil e no Mundo.Trazerem muitos exercícios e problemas para serem resolvidos. Análises de partidas. A nossa literatura repete muitas partidas e faltam análises mais detalhadas. Precisamos de mais literatura sobre aberturas específicas, sobre meio jogo e finais técnicos diversos, ensinando minúcias. Esta falta forçou-nos a ficar 2 meses estudando as passagens de pedra c1.

Para finalizar.
- Cultive o riso, o bom humor e a amizade sincera.
Para mim o gostoso, o interessante, é jogar sempre para ganhar, quer seja nos treinos quer seja em partidas de torneio.
Quero agradecer aos que me incentivaram no Jogo de Damas, em especial a C. A. Ferrinho de quem acabei sendo compadre por ter sido por ele, em razão da amizade estabelecida, convidado para padrinho de seu filho Vladimir.